Saturday, July 22, 2006

Outros tempos

Moro na zona noroeste de Porto Alegre; bairro de trabalhadores, da classe média baixa e de pobres. E já moro aqui há vinte e cinco anos, quase uma vida. Lembro que quando mudei para cá, um loteamento do tipo padrão do BNH, casas iguais, gente igual, um sonho da casa própria com carnet de pagamentos imenso na gaveta; uma comunidade, que se configurava irmanada até na inexistência de cercas ou muros, as casas só eram divididas umas das outras pelo ar que as circundava.

Hoje as casas possuem muros, altos, cercas com pontas perfurantes, e em cima dessas barreiras medievais outras mais modernas, as cercas elétricas, que zunem numa freqüência inaudível para o ouvido humanos, com seus trinta mil ou mais volts, como se fossem ferozes cães de guarda. Dentro dos terrenos descansam alertas, não os metafóricos, mas os reais filas, dobermans, rotwailers e outros gigantes que exibem assustadores caninos que avisam: você não é bem-vindo aqui!

Sinal dos tempos! Outros tempos. Tempos em que o homem cada vez mais se torna o lobo do homem, seu único e temível predador. Ouvi alguém falando que autoridades - municipais, estaduais, federais? não sei - visitam Nova Iorque para estudarem o tolerância zero. Só posso dizer uma coisa: já foram tarde... infelizmente tarde demais para tantas vidas que já foram ceifadas.

PS.: O placar do júri de Suzane Richtofen dá uma pista desses novos tempos. Da acusação de matar o pai; culpada por 4x3 - quer dizer, quase inocente -, da acusação de matar a mãe, culpada 6x1. Não tem jeito mesmo, os serês humanos são cada vez mais descartáveis e reciclaveis - pelo jeito, os pais, depois de criarem os filhos, terão que ficar em permanente estado de alerta!

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